sábado, 30 de março de 2013

Viver e morrer

Pesquisando sobre o tema da morte por ocasião de um curso que pretendo realizar, eis que encontro um belo pedaço de texto do Stanley Keleman que me parece pertinente sob uma série de aspectos.

O primeiro deles é que a morte ocorre a cada instante. Sim, inclusive agora estamos morrendo e pouca gente pensa, fala e discute sobre o tema. Depois, no ocidente, ninguém aceita a morte de modo tão simples e tranquila. Há uma série de dispositivos de controle para que a morte seja inodora, insípida e, claro, invisível. Principalmente, nos hospitais.

Mas a morte a que eu me refiro e que o texto ecoou em mim, diz mais respeito ao fim das coisas, ao fim das etapas, ao fim de um ciclo.

Reproduzo o trecho:

"Finalizações"

"Viradas são o término do velho e o começo do novo. Elas falam de modo como encerramos eventos. Elas falam do modo como proibimos ou participamos de finalizações. Tememos as finalizações, desejando deixar os eventos adormecidos.
(...) As finalizações nos colocam face a face com o desconhecido. As finalizações nos forçam a fazer novas relações ou, pelo menos, oferecem esta oportunidade. O luto é a consequência da partida e das finalizações. Pode-se dizer que o fim é a cornucópia de um momento decisivo. (...) Mas as pessoas evitam os fins. Os sentimentos são permanentes demais. Fins e finitude assustam as pessoas. Há o contrário, esquiva, retraimento e racionalização. Mantenha intacto o quarto do morto. (...) Mantenha seus sentimentos no mesmo nível invariável. Fuja da solidão. Este é um não-fim. Torne-se estóico, realista. Ou, então, trate o morto como se ele nunca tivesse existido e negue qualquer espaço que ele tenha ocupado. uma finitude abrupta. A primeira situação estende o passado para sempre; a segunda corta a conexão para sempre. Em um ou outro caso, nada de inesperado acontece. Isto inclui todas aquelas coisas com relação às quais nos sentimos culpados, que desejamos poder mudar, que desejamos que nunca tivessem acontecido, que nos fazem sentir desconforto, representam todas as potencialidades não realizadas de um contato melhor ou de uma plenitude emocional.
Situações em aberto devem ser finalizadas antes que possamos deixar a pessoa morta ou o self morto morrer. Isto é verdade mesmo quando se trata de uma pessoa fisicamente morta há muitos anos. Levamos esta pessoa dentro de nós, incapazes de romper com ela, não dispostos a aceitar o espaço vazio, não desejando completar o ciclo. É como se pudéssemos prolongar a nossa própria vida , ou avida da outra pessoa, recusando-nos a mudar a relação emocional.
A finalização é uma parte importante do processo de luto. Elaborar nossos fins


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Finados

Ah, a morte.
Tenho que fazer minhas reverências a ela e aos que já se foram.

*

"Porque a desesperança, a terrível nulidade da revolta aqui descrita, já nada tem em comum com a marca de Caim, com o movimento de fuga que se poderia encontrar no início. Não, aqui os nossos critérios e as nossas explicações não valem nada, aqui temos apenas alguém que chegou ao fim das suas forças...
(...) Não, nenhum falseamento poderá libertar-me do meu fardo e aliviar o leitor. O perigo não é compreensível, o medo não tem nome - é isso que o torna tenebroso. E há caminhos tão terríveis que deles já não podemos voltar.

Se assim não fosse, porquê morrer?

A morte não é para nós natural, deixa-nos perplexos. Mas os asiáticos incluíram-na mas suas religiões como o nada, o verdadeiro ser, a verdadeira força. Aguardam a morte sem ansiedade - já a nossa vida não é concebível sem esta ansiedade, que é o seu verdadeiro elemento. Arrancados à nossa esfera, arrancados às nossas formas familiares de consolo (um rosto que respira, um coração que bate, os cambiantes de uma paisagem amena), temos por fim de nos abandonar aos ventos fortes da montanha, que rasgam e deixam farrapos as nossas últimas esperanças. Para onde nos voltaremos? À nossa volta, aridez apenas, cordilheiras cinzentas de basalto, desertos amarelos cor de lepra, vales lunares sem vida, ribeiros de greda e rios de prata, onde bóiam peixes mortos. Para onde? Ah, a perplexidade, asas cortadas da alma! Na Ásia, não temos sequer consciência da sucessão dos dias e das noites, mesmo que o dia seja luminoso e sem sobra, mesmo que a noite seja alumiada por estrelas frias.

Por vezes podemos agarrar-nos ainda à dor, à amargura da saudade e do arrependimento, mas nesse caso já não vemos a nossa própria culpa, pensamos em vão no princípio ("O que foi que me conduziu até aqui?"). Poder acusar mais uma vez, poder confiar mais uma vez, poder amar mais uma vez! Caímos então na ilusão, grande como o mar, temos fé e rezamos, e quando olhamos para o rosto amado, esquecemos o medo escuro. Mas como podemos nós proteger-nos do medo?

Ah, despertar mais uma vez sem sentir as suas garras, por uma vez não ficar só e entregue ao medo! Sentir a respiração feliz do mundo!

Ah, viver mais uma vez!"


*
"Morte na Pérsia" é um livro de Annemarie Schwarzenbach, viajante incansável e repórter em plena 2a. Guerra Mundial. Nascida em Zurique em 1908, Anne (para nós, íntimos) casou-se com um diplomata, era dependente de morfina e tinha uma identidade sexual em confronto com o seu tempo e com as normas sociais vigentes. Aos 34 anos, caiu da bicicleta, bateu a cabeça e morreu nove semanas depois.)








terça-feira, 14 de agosto de 2012

O ano que findou

Fazer 1, 5, 7, 14, 18, 21, 27 anos não é fácil.
Fazer 35 é mais difícil ainda. Um setênio se completa e um novo se inicia.
Não é simples. Dá um trabalho de Sísifo largar a pedra e correr montanha acima (e, muitas vezes, descer dói mais ainda). Machuca-se as costas, cria-se hábitos e há uma certa ranzinzice com algumas cositas. É, o tempo passa e você sente. Inevitavelmente, ainda mais com um Saturno regendo seu mapa.
Você vê também que algumas atitudes passadas marcam pra sempre. Que alguns caminhos já foram percorridos e mais alguns que nem valem mais a pena caminhar.
Escolhas foram feitas e somos responsáveis por elas. Assim é. Nada vai mudar. E claro, nem tudo é digno de pesar.
Um fruto quando está maduro está pronto pra ser usado. Se não for, apodrece. É fato.
A maturidade tem seu lado bom.

*

Esse tempo vivido foi de grande aprendizado. Quando se tem um limão, faz-se uma limonada. Quando se faz sol, vai-se ao parque. E um tempinho chuvoso é bom pra ficar nas cobertas...

E para que nos próximos 35 anos, alguns aprendizados fiquem registrados, faço uma listinha com 34 lições e/ou percepções e/ou experiências desse ano que finda. São:

Que ...
1- As intuições são verdadeiras. Não se pode duvidar delas.
2- Não se tem tantas dúvidas do que significa um olhar.
3- Há uma sensibilidade maior para aproveitar o acaso.
4- Compra-se livros de receita e se faz quitutes gostosos.
5-  Provar do próprio veneno não é algo agradável. Sofre-se pra dedéu.
6- Não adianta querer fazer algo perfeito aos 47´  do segundo tempo (já com os minutos de acréscimo).
7- Teu filho é prioridade e não se fala mais nisso.
8 - Muito dinheiro ou a falta dele cria problemas em um relacionamento.
9- Quem trabalha muito fica doente ou não vive a vida como deve ser em suas outras perspectivas.
10- Com estudo se pode pegar umas patentes na tar Academia. Exemplo: "Mestra em Ciências".
11- Tem-se menos paciência com certas perfumarias.
12- O primeiro canal a gente nunca esquece.
13- Os jovens têm muita energia. É fato.
14- São necessárias oito horas de sono nessa idade.
15- É preciso ser menos inflamável e mais flexível.
16- Reconhece-se ainda mais o valor daqueles que nos são caros.
17- A indisponibilidade alheia te faz sentir um cocô. E a disponibilidade, te deixa gostosa.
18- É preciso ter disciplina se se quer avançar com algumas questões.
19- É sempre bom deixar um texto descansando um tempo, relê-lo, para depois entregá-lo para avaliação.
20- Os 'umbigocentrados' são um tanto inseguros.
21- Não se vai para um parquinho com areia se você não pode ou não quer se sujar (pode valer como metáfora!).
22- Nem sempre aquilo que se vende corresponde à verdade. Há muita propaganda enganosa nas relações humanas.
23- Quantidade não tem nada a ver com intensidade, nem com qualidade.
24- Por ora, o céu de Brasília é o mais lindo, o carnaval de Recife é o melhor do mundo e que a Bahia, bom, diria Caetano Veloso que " a Bahia tem um jeito...".
25- "Vale a pena ver de novo" só vale na tevê.
26- O mundo não gira ao seu redor, nem da sua amiga, nem do seu namorado, cliente e/ou chefe.
27- Há situações (suas e alheias) que você terá que respeitar porque não há nada melhor que se possa fazer.
28- Cada um tem o seu tempo e o seu modus operandi na Terra.
29- A terceira idade não é tão terceira idade assim.
30- Os músculos, as articulações e os órgãos dos sentidos precisam de atividade física.
31- Hostel é coisa pra gente com muita disposição e animação.
32- Ser verdadeiro com o outro pode te frustrar.
33- Ser fiel a si mesmo traz grandes recompensas emocionais.
34- (parafraseando Shakespeare) Há muito mais mistérios entre o céu, a terra e o mar que nossa vã filosofia pode imaginar...


É, foi um ano puxado, mas foi bom. Valeu a pena!

*

E o que eu desejo para mim, agora?
Ora! Que os próximos 35 anos sejam repletos de cores, gostos, perfumes e muitas alegrias junto àqueles que amo! E como diria Vinicius de Moraes, com "abraços e carinhos sem ter fim".




domingo, 12 de agosto de 2012

O dia em que meu pai encontrou John Malkovich

É dia dos pais e faz tempo que o meu já se foi.

Alejandro, meu pai, era desses caras que falavam muito. E falava uma porção de línguas, viajava muito, gostava de comer, de acampar, de pegar pedras e cactus pela estrada para depois trazê-las para casa. E também trabalhava muito. Cansei de vê-lo sábado e domingo trabalhando.

Era alto, forte, olhos cor de mel para verde. Meio ruivo (deve ser daí o meu gosto pela cor!), meio gordo. Usava bigode em alguns períodos. Noutros ficava com uma cara igual ao do meu dieda* e um pouco igual a minha. A genética tá ali e não me deixa mentir.

Era argentino e falava que a Argentina era um país de mierda. Sim, assim mesmo: de mierda (eu não acho, mas ele achava e morreu achando!). Tinha uma coleção de miniaturas de aviões e navios pendurados pela parede. Pintou os batentes das portas de verde e curtia mais os Rolling Stones que os Beatles. Mas isso não faz muita diferença na minha  vida porque a verdade é que eu me lembro muito mais das músicas folclóricas russas e espanholas - e de outros lugares - que ele botava no "equipo", que o rock n´roll propriamente dito.

Ele era quem me levava para ver espetáculos de teatro. Com ele foi que vi a saga toda dos Trapalhões. Ele dormia, enquanto  eu via o filme. Eu me chateava, na época, é verdade. Mas, hoje, faço como ele, quando o filme me dá sono. É inevitável! E não me culpo. O cansaço vence. É mais forte do que eu.

Nos meses que antecederam sua morte, ele me perguntava sempre quando viria o neto.  Quando ele morreu, às vésperas do natal, tempos depois engravidei.

Sobre a morte em si, penso que não sofrera muito. Começou a passar mal pela manhã, a esposa chamou a ambulância e ele foi para o hospital mais próximo de sua casa. Suas últimas palavras foram "avise aos clientes que vou me atrasar". Ele não achou que ia morrer ali, naquele dia, naquela hora. Saiu do hospital morto. Infarto. Morreu na Itália e suas cinzas vieram cinco meses depois para o Brasil.

Hoje reproduzo um dos emails que ele me enviou. Conta uma de suas viagens e o dia em que ele encontrou John  Malkovich. Sim, aquele, o próprio!

Tenho gosto pela estória porque rio, porque conversávamos sobre ela, porque são dessas estórias realmente que a gente nunca acha que vai acontecer com a gente. Mas acontece. E aqui está o relato do velho Alejandro, um homem que gostava de contar estória. Boas estórias.

ps- O texto é dele e pode haver  erros de português, de acentuação etc. Prefiro deixá-los. Foi como ele me escreveu. E assim vai ficar.

* dieda - vôzinho em russo.


***


Bem, depois de me ter tranquilizado, de ter descansado um pouco da viagem (a Escandinávia) porque ate agora, ainda eu tava com o stress da viagem, decidi te contar um pouco mais do mesmo. Sabe, eu tou esperando dar às 4 da manha, para assistir a primeira corrida de fórmula 1 lá na Austrália, só que agora são somente as 12, 30' da noite. Pois è!

Hoje fomos a Modena com a baixinha. Ela tinha que entregar uns livros na biblioteca, e quando chegamos na praça Roma, vimos que estava toda decorada de bandeiras, e a academia militar mais ainda, toda com bandeiras da  Itália e com as bandeiras de Modena que são com as cores azul e amarelo, muito bonito! Acontece que amanha será a cerimônia do 114' juramento dos cadetes que se formam neste ano! Daí vai ser uma festa e tanto.

Hoje, álias, ontem, dia 8, foi o dia da mulher, portanto a você vai o meu "muita felicidade". Aqui todo mundo deu de presente um raminho de flores amarelas, muito belas e que são as primeiras,  preanunciam a chegada da primavera. A temperatura já está ao meio dia uns 10 / 12 graus, porém de manha faz ainda uns 4/ 5, mas os dias são de muito sol e às 6 da tarde ainda é quase de dia!!

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Bem, agora te conto um pouco mais da viagem:

Quando cheguei na Suécia, a primeira cidade que fui visitar foi Goteborg ou Gotemburg. É que existe uma pequena discrepância sobre como deve-se dizer,porém, para nós será Goteborg e basta. O nome vem porque lá nasceu, escreveu o tal do famoso "Goethe". Daí eu fui a ver a tal da estatua e obviamente tirei uma foto, conheci o porto que é um dos mais movimentados da Escandinávia, etc, etc...

Depois fui visitar o meu amigo e cliente das amasadoras, Mr. Hussein (o sobrenome não te o posso falar, porque é igualzinho àquele que está no Iraque tomando conta !!). É fogo, e daí depois que a gente se encontrou foi aquele abraço e ele como sempre ta cada dia pior com o inglês. Pois e!, Agora além de me falar "my love Mr. Volcov" em vez de "my dear ...” ele  confunde tudo e pra remediar diz de cada 10 frases: 300... mil: "ask you...", I ask you.... I you ask... "...enfim o que eu escutei a  palavra "ask".. não ta no gibi!! Então, ele me convidou a
noite a jantar, e pra piorar a coisa me diz que me queria levar a um típico restaurante italiano....!
Mas como eu tenho confiança com ele, eu disse: naooooo....., pelo amor ao céu não
quero nem restaurante italiano nem comer salmão!! To de saco cheio. Ele deu muita risada, e concordamos em ir a um restaurante persa! Pois é! Eu nunca tinha ido a comer num restaurante persa, e eu fiquei contente.

O Hussein trouxe um rapaz (de mais ou menos 40 anos) que esse sim falava um inglês razoável, sem tanto "ask you", que dai eu fique  sabendo que tanto o meu amigo Hussein e este novo que se  chama  “Batar" são do Afeganistão, e eu como tenho muita simpatia por esse povo que sofreu muito, fiquei muito contente!
Chegamos ao tal do restaurante, tudo bem que o nome e: Pizzaria do Renzo!!! É fogo: uma vez dentro a musica era toda latino-americana; com salsa, merengue e samba do Brasil, dai como eu já não tava entendendo mais nada perguntei ao meu amigo Hussein, e ele me disse que
é normal porque todos os persas e afegãos que vão lá, além  dos próprios suecos, gostam dessa musica. Bem!

Daí vem o garçom e começa sim a falar em persa com os dois, e bla, bla. O cara depois de uns minutos realmente nos traz uma fantástica comida persa, à base de um tipo de purê de beringelas, com pedacinhos de carne de carneiro assados num espetinho, um tipo de arroz parecido ao integral, pimentões verdes picantes pra chuchu e tudo acompanhado com leite azeda com  yogurt batido e com umas ervas finas.... bem essa coisa  meio acida foi bem recebida pela minha barriga. Porém, depois eu tomei um enorme chope! Esta comida se parecia muito às comidas que eu comi na Turquia. Realmente gostei.

Quando terminamos de jantar eu chamei o garçom pra pagar, e ele me proibiu ate de falar nisso, tudo já foi combinado com Hussein.  Realmente um cara e tanto.

A essa altura, o Hussein já tava doido. Somente falava "as de aqui..., as de la... "e eu não aguetava de tanta vontade de rir, e quando contei isto pra Maria nós dois rimos até às lagrimas; ....
Pois é, esse é o meu amigo Mr. Hussein, eu acho que você viu a foto dele no meu álbum das amassadoras....


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Depois da Goteborg viajei para Estocolmo e isto eu já te contei.Agora vem a ultima parte, a viagem  à Finlândia, à capital: Helsinki!

Para entender o que e a Escandinávia hoje, tem que te explicar que a mesma ta formada pelos países que são: Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia. Estes são os mais importantes.
Claro que os países bálticos como a: Estônia, Letônia  Lituânia também o são, mas é a mesma coisa que querer comparar na Europa: Espanha, Alemanha, França, Suíça com a Polônia, República Tcheca, Eslováquia e a Hungria. Ou seja, um é grande e o outro ta crescendo devagarinho.

A  Noruega é o maior produtor de petróleo da Europa, a Suécia com seus somente 9 milhões de habitantes, produz as marcas: skf, volvo, saab (aviões e carros) papel; a Finlândia é líder mundial nas telecomunicações,papel, e a Dinamarca... bem, somente é a dona de toda a Groelândia!

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Daí, eu chego à em Helsinki, na Finlândia, e vou ao hotel. Legal, no meio do centro que tem castelos medievais, ruas de paralelepípedos, etc. Lá pelas 9 da noite desço e pergunto onde tem um restaurante, porque eu to com uma fome do cão!! A  moça me diz que do lado tem um restaurante russo, eu penso: naoooo.... ! E, na frente, um bar mexicano, ou sei lá o quê: uma cantina mexicana!! Eu vou na cantina mexicana morto de fome!!

Chego lá, entro e vejo uma coisa como um bar. Pergunto se aqui se pode ou é possível jantar, e o garçom muito amável me diz pra eu ir lá em cima que tem um restaurante. Eu vou.

As escadas são de madeira, fazem um baita de um barulho quando você pisa nelas. A música é forte pra chuchu!! Meio latina como a salsa. Depois, lá em cima é musica de mariachi, mais
no fundo é tango argentino!!!

Porém,quando estou passando de um salão pra o outro, um cara me faz sinais pra eu me sentar na mesa dele, eu vejo que o cara faz um monte de sorrisos para mim e sinais com a mão “vem!, vem!”. Eu me aproximo e vejo que o cara é o tal do John Malkovich !! Pois é!! Com o cavanhaque meio raso, meio careca, com os lábios com batom!! Uma verdadeira marica. Daí me dá a mão e me diz pra eu sentar!!! Do lado dele.

Então eu não agüento e pergunto para ele se é aquele que eu tô imaginado que seja. E ele me diz que sim e me pergunta se isto é um problema pra mim ! É fogo!! Tudo acontece comigo.... o problema que ele não larga a minha mão !! E eu já to ficando por aqui, porque todas as pessoas estão começando a olhar pra nós!!! Ele insiste com aquele sorriso safado para eu
sentar do lado dele, mas eu lhe digo que deve ter me confundido com outra pessoa, e mais, digo-lhe que ele me deve ter confundido com outro tipo de pessoa!! Daí ele se toca e muito amavelmente larga a minha mao e meio avermelhado me diz: of course sir, this is a terrible mistake, yes......  E olha que a barulheira nesse pedaço do salão era muito alta. Bem, eu já
to de saco cheio, mas antes de ver o cardápio liguei  para a Maria, de lá do restaurante e ela me diz pra eu tirar uma foto.. e fogo!! Eu deixei a máquina no hotel .. e  vou ao salão do lado que está mais tranquilo e peço um bife com batatas e feijão!! (porque tinha já visto que lá tinha feijão) e a garçonete me traz um bife com pimenta, mais tanta pimenta que dava  pra ver
o céu!! e em vez de feijão, me encheu o prato de cebola!!! É fogo!!! A coisa é que enquanto comia e apagava o fogo com água a baldes, perguntei para a garçonete... e ela me diz que ele, o Malkovich, e outros estavam em Helsinki rodando umas cenas do próximo filme e essa noite deu a casualidade de eu me encontrar com ele!

Depois que terminei de comer a tal da "bacia" de cebola com bife vou ao hotel e pergunto a mesma coisa e a moça me diz ..... sim, o Malkovich ta aqui fazendo um filme ....., pois e!!

Álias, no dia seguinte fui comer no restaurante russo, lá tudo é russo. Tem uns 200 samovares.... aqueles que a Olga queria vender e que todo mundo tava já de saco cheio,, se lembra?... fotos dos imperadores da Rússia e a musica que não parava de tocar era kalinka, kalinka,kalinka, kalinka a maia, kalinka, kalinka, kalinca a maia..... nas duas horas que eu
fiquei la somente escutei a musica "kalinka" não parava mais!!!!

Obviamente, ninguém lá dentro falava russo, e a comida cara pra chuchu. Pedi uma panqueca com uma espécie de patê por cima, demoro 1 hora e 15 minutos pra chegar e me custou um olho da cara. Sai de lá com uma p... fome!  Então fui a um supermercado e compre 2 bananas, suco de frutas, um sandwich  com um monte de coisas dentro e acabei comendo no quarto do
hotel!!

Bem, esta historia termina por aqui...depois te conto quando me tocou sentar do lado da Fafá
de Belém e a "namorada dela"...

Um beijo grande pra você do Pai que te ama muito.


***


ps - Eu também te amo, pai. 



segunda-feira, 23 de julho de 2012

O vizinho

Domingão foi dia de churrasco embalado pelo garçon de Reginaldo Rossi na laje do vizinho. Aquela fumaça no ar e a criançada querendo entrosar.

No fim do dia, o menino de cinco anos veio assistir a um filme junto ao pequeno de quatro. Como tinha fome, o vizinhinho comeu três bananinhas-ouro, uma maçã e a sopa quando ficou pronta. E, durante o jantar, contou que o pai tinha medo de avião. Que só ia pro norte de carro.

Que norte? Pernambuco? ""Sei que norte, não, mas minha mãe não tem medo, não". Ela quer ter uma menina, mas meu pai não deixa não. E parecia uma sessão de terapia gastronômica: falava e comia, falava e comia.


Na segunda-feira, eles que vendem guarda-chuva quando chove e açaí, quando faz sol, acordaram cedo e nós também: eu e o rapazinho de quatro.


O meninote, às 9h, lança a contundente frase "mãe, eu quero um irmãozinho". Já te disse pra pedir essas coisas pro seu pai. Vá falar com seu pai. "Mas mãe, não adianta, quem faz o filho é você!" E eu, na minha ing-nhoransã, assenti como quem vê que o menino sabe das coisas.


Pra Mônica, Ulisses e Mariama.

segunda-feira, 14 de maio de 2012


Quando o povo se levanta, até os mortos revivem.

(La Paz, Bolívia.)


Apenas um desabafo de uma segunda-feira.


Apenas uma segunda-feira.


"Chove. Faz frio.
Sofre-se.
Correria.
Possível pneumonia.
Talvez sinusite.
A obsessão que não sai da cabeça.
E tem o folder, o texto, o email.
E tem trabalho.
E é a casa que chama.
Tem que fazer o mercado.


E lava-louça.
E faz inalação. 
Vem ver televisão.
De novo vem a obsessão.
De novo e de novo você pensa na morte da bezerra.


Só queria uma poesia na rotina."